domingo, 23 de março de 2008

"Não quero ser moderno"


O que acontece nos dias de hoje é exatamente isso. As pessoas querem ter o último lançamento de celular, andar no melhor carro, vestir a roupa mais cara, lançada no último São Paulo Fashion Week. Complicam demais. Olham tudo e todos com o olhar do efêmero.

Já faz alguns dias, era uma quinta-feira, quando eu e alguns amigos da faculdade saímos da aula e fomos tomar um shoppinho. O dia tinha sido estressante. Queríamos - eu pensava - jogar conversa fora, sorrir, distrair. Nem precisava ter essas conversas que jornalista costuma travar, discutindo a profissão, os rumos da ciência e o futuro da humanidade. Era, talvez, sorrir descompromissadamente, esquecer tudo e viver intensamente o que aquele shoppinho proporciona. Aquela sensação de leveza, de transcendência...

Sentamos em uma das poucas mesas que ainda restavam no bar. Pedimos a nossa bebida e enquanto aguardávamos, todos, mas todos, menos eu, tiraram dos seus bolsos e bolsas seus aparelhos celulares e começaram a fazer eu não sei o que. Na nossa mesa não havia conversa, pelo menos verbal. Eram engraçadas as experssões. Uma, após um bip disparado pelo seu celular fez cara de morte, mas não falou nada. Outro, sorria feito uma besta. E outro falava sem cessar... e eu com cara de alface, plantado ali, naquele bar. Minha expressão era de desolação. Viemos da faculdade necessitando e ansiando pelo nosso tradicional shoppinho. Mas não era pra ser daquele modo. Fui aguentando até quando não dava mais. Tomei um shopp, dois e no terceiro, a situação era a mesma. Levantei, acreditem, sem ninguém perceber, paguei a minha conta e fui embora. No caminho pensava que além do computador, temos outro aparelhinho, menor e menos impotente, que promete ser um dos destruídores das relações humanas. Desculpem o exagero, mas é assim que eu acho que acontecerá, caso as pessoas não saibam usar os celulares. No caminho, um bip dispara do meu telefone. Atendo. É Ísis:

- Rodrigo, você tá no banheiro?
- Não, não! Tô no caminho da minha casa.
- Mas você saiu sem se despedir de ninguém...
- É! Achei que estava atrapalhando vocês e seus celulares.
- Que isso, Rodrigo! Volte e vamos continuar nosso papo.
- Que papo? Continuem conversando vocês e seus celulares. Um beijo!
- Tudo bem, Rodrigo, um beijo! Até amanhã na aula.
- Até!

Cheguei em casa e deparei com o meu mural. A primeira coisa que vi foi os dizeres da foto que ilustra este texto. É um trecho que resume um poema de Carlos Drummond de Andrade: "Não quero ser moderno, quero ser eterno." Aquela noite não foi eterna. A modernidade nos atrapalhou. Mas foi só aquela noite. Ainda bem que não aconteceu situação semelhante outras vezes.

2 comentários:

Bruce De Battisti disse...

O falante rodrigo massacrado por celulares...
Ainda bem que não sofro de papos jornalísticos na hora de bebemorar... estou na mesa sempre para espairecer, mesmo que monossilábico!

Valdir Souza disse...

Tecnologia às vezes é uma merda.. Mas fazer o que? Já não se vive sem ela...